segunda-feira, 30 de junho de 2008

conversa com margarida cordeiro

A Margarida participou na preparação, produção, montagem e pós-produção de “Jaime”, o primeiro filme de António Reis, realizado em 1973. Julgo que foi a sua primeira experiência em cinema. Como é que aconteceu?

A primeira vez que eu trabalhei em cinema foi efectivamente no Jaime, do António. O António foi o realizador. Eu não assinei (tinha oportunidade de assinar como realizadora), achei, honestamente, que não devia assinar. Aí funcionei como assistente de realização. Colaborei na rodagem e na ideação do que se ia filmar, fui eu que descobri quer o doente - que já tinha morrido – que o trabalho em que se baseou o filme, que não é uma biografia. O doente estava morto e nós tentámos fazer uma homenagem digna. Aprendi nesse filme a fazer cinema. Gostei muito de o fazer. É um filme de compromisso tem pouca ficção porque não nos atrevemos a inventar sobre uma pessoa que, para além de já não estar viva, tinha sido doente mental quase durante 30 anos. É muito difícil abordar pessoas doentes, não faltar à verdade a essas pessoas. Falámos com a família, com a viúva, com as filhas, colectámos todos os desenhos que havia disponíveis, que já não eram muitos, tinham sido destruídos no próprio hospital.

Foi enquanto médica psiquiatra que descobriu o trabalho do Jaime?

Não. Eu estava no Porto a trabalhar. Tinha-me formado em Medicina, tinha escolhido Psiquiatria, e por não haver nessa altura Psicanálise no Porto, mudei para Lisboa.

Quando entrei no hospital Miguel Bombarda vi numa parede um desenho fabuloso, mas pensei que era uma cópia – eu já conhecia o museu de Lausanne e a chamada Arte Bruta. Portanto, vi uma coisa espantosa na parede, tão boa que pensei que era uma cópia. Isto era no meu gabinete, onde eu trabalhava; um dia, passo mesmo ao pé do desenho, verifico que era feito com esferográfica e pergunto de quem era. Dizem-me que era de um senhor que tinha acabado de morrer, por uns meses eu não o conheci. Mas percebi logo que aquilo era excepcional e fomos juntando os desenhos.

Participou na concepção do “Jaime”?

As ideias para este filme foram na maior parte do António, foram baseadas nos desenhos. Usámos uma máquina especial – a truca -, que se aproximava perpendicularmente ao desenho esticado entre duas transparências. As poucas saídas documentais foram no rio Zêzere, perto da Covilhã, no Fundão, onde ficava a casa de lavoura onde ele tinha trabalhado, até se notar que estava doente e ter sido internado. Tínhamos ideias fabulosas, mas lembro-me que a maior parte das ideias de que falámos não foram transpostas.

Tiveram apoio de alguma instituição para fazer o filme?

Eu não fui produtora, nunca fui. Não lhe posso dar dados concretos. Acho que a Fundação Gulbenkian, que sempre nos ajudou, deu uma parte. O filme foi feito com 800 contos, uma ninharia. O Acácio de [Almeida], director de fotografia foi pago, nós não ganhámos absolutamente nada. A montagem foi feita por nós, foi um filme barato. Foi feito em 35 mm, com os restos que havia no Centro Português de Cinema (também para optimizar o que lá existia), onde estava o Fernando Lopes, a Noémia Delgado, nessa altura na sala ao lado a fazer montagem, e também o Artur Semedo...

Foi aí que começou o seu amor pelo cinema?

De cinema, gostei sempre. Mas fazer cinema foi através do Jaime. Apercebi-me das engrenagens e percebi que era difícil. É uma parte complexa e apaixonante.

“Trás–os–Montes” foi um primeiro filme realizado por si e pelo o António Reis.

Nós no Trás–os–Montes fizemos uma saga: vínhamos todos os anos aqui para Trás–os–Montes e fazíamos milhares e milhares de quilómetros, de Land Rover – à nossa custa, claro. Chegámos a viver algumas dias em aldeias próximas de Bragança, fotografando onde mais tarde filmámos, anotando as épocas de floração das árvores para depois ser fácil escolher lugares alternativos. Há muito trabalho antes da rodagem do Trás–os–Montes, milhares e milhares de quilómetros. Neste filme, fomos os argumentistas, fomos os realizadores, fizemos a montagem, fizemos tudo menos a produção.

O que pretendia criar e mostrar com esse filme?

A linguagem fílmica é uma linguagem muito própria, a única que não se pode reduzir a outra, nem por palavras nem por traillers. Nós queríamos traduzir em linguagem fílmica o nosso encantamento com as gentes, os animais, as paisagens e o modo de vida desta zona. Quisemos traduzir a maravilha que sentíamos.

Em dada altura, os personagens aparecem com vestes de outros tempos. Há um hiato temporal, passa–se para um ambiente algo “fantástico”. O que significa essa passagem de um quotidiano contemporâneo para essa outra realidade?

Nós tentámos não fazer essa parte "fantástica". Fizemos uma realidade já trabalhada que é aquela que se filma - colocando a câmara num sítio estamos já a condicionar a tomada de vista -, mas não fizemos um documentário. Trabalhámos o modo de recolher os dados visuais e sonoros. A certa altura, apercebemo-nos de que havia uma espessura histórica nesta terra. As pessoas já não estavam cá, os castelos estão desfeitos. Mas houve uma espessura temporal, aqui viveu gente há muitos, muito anos, continuamente, os filhos dos filhos dos filhos. E através disso quisemos dar uma respiração ao filme. A intriga linear de um filme é A dá B, B dá C; por vezes, há uma pequena troca e o espectador segue alegremente esse suspense e fica aí na conclusão; ora nós fizemos isto em registos de música – como costumávamos dizer - e são tempos e são ritmos diferentes, mas são um Trás-os-Montes que nos pareceu que poderia ter sido assim. Portanto, falar destes camponeses, mas não só no século XX, sempre noutras épocas, porque nós encontrávamos vestígios dessa vida.

O “Trás-os-Montes” é produzido em 1974-75. O vosso filme seguinte foi “Ana”, produzido em 1981, e também decorre em Trás-os-Montes, tal como o último.

Decorrem todos em Trás-os-Montes. O Ana já foi um pouco diferente. Nós tínhamos feito o Trás-os-Montes. O Trás-os-Montes foi feito com uma paixão e uma novidade incrível. O Ana foi mais pensado, porque estávamos na posse de muitos dados, conhecíamos esta terras, tínhamos pessoas conhecidas em todo o lado, se nós fazíamos as coisas de uma maneira errada essas pessoas corrigiam-nos, tentámos não ser infiéis às coisas que víamos. O Ana foi mais consciente, dominávamos melhor o instrumento; por isso, as pessoas acham-no mais seco, mas o Ana é mais rico, muito mais bem feito. Nunca ninguém analisou bem estes filmes. Porque os nossos três filmes são como pedaços de filmes que rimam mais tarde, ou que são anunciados antes, tal como na música. Nunca ninguém analisou um só desses filmes, nem aqui nem em França.

O “Rosa de Areia” é produzido em 1991. Que relação tem com os filmes anteriores?

São variações do mesmo tema. E há talvez um maior domínio dos meios, fazíamos as opções mais rapidamente.

Eram filmes muito trabalhados conceptualmente. Como era a fase de pesquisa?

Eram muito trabalhados conceptualmente e, depois, tentávamos que sensivelmente fossem de uma frescura espontânea – o que é mentira, dado que dava muito trabalho criar essa aparente espontaneidade. Mas os filmes que poderíamos ter feito a seguir iriam beneficiar de todo esse trabalho, e é por isso que dói parar. Se os planos nem sempre corriam como desejávamos, aprendíamos para o futuro. Aprende-se imenso fazendo, bem ou mal. Foi isso que doeu mais, não continuar a trabalhar. A pessoa começa a dominar um meio de expressão, que é o cinema, e de repente obrigam-nos a parar por condicionamentos externos.

Falemos da pesquisa que faziam, que era de certeza muito grande e muito aprofundada.

É difícil. Eu e o António tínhamos um modo de trabalhar que... talvez haja mais casos destes no mundo, mas pessoalmente não conheço ninguém. Nós tínhamos longas conversas, falávamos horas e horas por dia, trocávamos pontos de vista, fatalmente; duas pessoas que se entendem bem, que não se criticam uma à outra mas também não se inibem de dizer: "Esta ideia fílmica pode ser aperfeiçoada", forçosamente. Funcionando ao mesmo tempo, conseguíamos evitar que se caísse no patético, no lesser than life. É o que eu chamo ao cinema português, é menor que a vida, ainda é mais chato que esta vida de aldeia global! Nós procurávamos potencializar o que víamos, e realmente respeitávamo-nos muito e trabalhávamos – disse isso para uma entrevista francesa – como se fossemos um grupo, um grupo de confiança. Nós não dizíamos ao outro: "Essa ideia não presta", dizíamos: "Vamos pensar bem acerca dessa ideia, não acho que seja isso". Mas o que falávamos não era: "Aquela mulher falou assim e deslocou-se assim"; era: "Isto ficava bem encadeado desta ou daquela maneira. Era uma pré-montagem.

Houve algum nome da pintura, da literatura, da filosofia, do cinema ou mesmo da psicanálise que tenha sido significativo para o vosso trabalho?

Não, no meu caso, não. Tenho imensas influências porque leio imenso e realmente as minhas ideias não são "originais", são fruto da minha experiência e do que as outras pessoas me têm transmitido, pessoas já mortas, que escreveram. Mas não me lembro de ter pegado numa ideia e de a ilustrar, nunca peguei numa ideia de um livro mesmo que goste muito da pessoa que estou a ler. Não, as pessoas influem em mim de uma maneira profunda, ajudam-me a ser um humano diferente, a encontrar raízes. Tenho-as, é evidente. A minha experiência não seria nada se eu fosse cortada das minhas fontes de informação. Devo tudo a toda a gente, é o mais que posso dizer. Agora, esse tipo de influencia consciente, isso não, nunca. Isso traduz-se fatalmente num cinema inferior.

Queria dizer que, tendo em conta que qualquer um desses filmes é um cinema muito especial, muito conceptual...

É irrepetível. Por isso acho um crime terem-nos cerceado o Pedro Páramo. O António ainda estava vivo, foram cerca de dois anos. Era a nossa saída da província pela primeira vez. Era o culminar do que tínhamos feito até ali.

O Pedro Páramo era o vosso quarto projecto, mas não conseguiram apoio do IPC.

De todo!

Voltando um pouco atrás: o “Trás-os-Montes”, o “Ana” e o “Rosa da Areia” fizeram o percurso dos festivais.

Andaram e andam, por todo o mundo. Nos festivais grandes de muito movimento, como o Festival de Berlim, perdem-se. Já depois do António morrer, fui várias vezes a França, mas a primeira vez adorei. Era numa aldeiazinha que só tinha uma rua. Não me esqueço nunca, foi a primeira homenagem ao António, apenas uma rua, casas de um lado e do outro. Estava lá muita gente dos Cahiers du Cinema. Um festival pequenino com poucos filmes e gostei imenso. É um dos festivais que está na minha cabeça, em Lussas (Ardèche), a sul de Lion.

Não havia um determinado tipo de festivais em que os filmes fossem acolhidos de outra forma?

Os grandes festivais são como as feiras, com carrosséis, propaganda, certas "vedettes", essas coisas...

Algum dos vossos filmes teve exibição comercial em Portugal?

Sim, o Trás-os-Montes, o Ana e o Jaime. Só o Rosa de Areia é que não entrou em circuito comercial. E por uma razão: a Inforfilmes estava a dissolver-se, o filme pertence à Inforfilmes e aquilo está complicadíssimo. O Trás-os-Montes foi exibido primeiro em Bragança, numa sala de cinema, depois em Miranda, porque os actores eram todos daqui; foi exibido no largo porque não havia sala de cinema na altura; e depois em Lisboa foi exibição comercial. O Jaime, com muita honra para nós, foi estreado com o Couraçado Potemkine [de Serguei Eisenstein]. Lembro-me do António ter ficado muito orgulhoso por os filmes estarem juntos.

Como foi a reacção da crítica aos vossos filmes?

A crítica sei-a toda, porque está coleccionada, tenho um dossier impressionante, dado que tive de o fazer para concorrer como o Pedro Páramo. Concorri duas vezes por ano, durante oito anos – mais dois anos com o António, foram dez anos. A crítica era muita boa, em geral; o João Lopes, o Leitão Ramos, o João Mário Grilo por vezes também falava bem; nos actores, o Artur Semedo... Agora não me estou a recordar.

E o público?

É evidente que são filmes que o público entende mal. Diga–me uma coisa: o público gosta da Roda dos Milhões, como é que vai perceber um filme como os nossos, tão trabalhados? São pedaços de gourmet, para quem percebe de filmes, e mesmo assim... Não têm o que o público está habituado a ter, apoios de atenção: uma jovem, sexo, violência, acção rápida, que é o que estão a fazer certos portugueses, estão a tentar ir por aí.

Concorreu durante dez anos com o projecto “Pedro Páramo”, e desistiu de fazer cinema porque o projecto nunca foi aprovado.

A concorrer, legalmente. Com curriculum, com sinopse, com planificação, com nomes de actores, com co-produção espanhola, com co-produção francesa, com co-produção italiana. Foram mudando, inclusive. Só na Suíça tivemos já os dois ou três projectos de co-produção que ao longo do tempo foram caindo, claro. Tive sempre co-produção, tinha era de arranjar dinheiro aqui também.

A única razão porque não voltou a filmar foi porque não teve a comparticipação nacional, portanto.

A razão porque eu não filmei foi porque deixaram fazer filmes portugueses outros que não os meus.

Por vezes os filmes da Margarida e do António Reis são um pouco comparados com o cinema do Jean Rouch. Sente alguma afinidade?

Não sinto. Gosto muito do Jean Rouch, do que vi gosto imenso, mas não tem nada a ver connosco. Ele faz um filme etnográfico. Eu sou suspeita, gosto do que ele faz, gosto de etnografia e ele diz coisas lindíssimas; mas o Jean Rouch está muito perto da recolha etnográfica.

Quais são os escritores para si mais significativos?

Novalis, está ali, nunca me separo. Montaigne, Kafka. Dizem que existiu o Homero, A Ilíada. Rilke, Jean Follain, René Char, Lautreamont...

E pintores?

Adoro o Goya, o Paul Klee, o Rembrandt, o Bacon, o Mark Rothko, o Velasquez, os Flamengos...

Gosta mais de romance ou de poesia?

Não gosto de romance. Adoro poesia.

E cineastas?

Jean Renoir, Jean-Luc Godard, Jean Rouch, Dovjenko, Eisenstein...

Se lhe dessem a oportunidade de ter todo o dinheiro que quisesse para fazer o que quisesse, o que faria?

Queria ser astronauta. Gostava de fazer parte de uma missão tripulada, da próxima, que vai a Marte. Quer uma coisa mais terrena? Uma coisa mais terrena, era assim: congelar o dinheiro da cultura para o cinema durante vinte anos e só deixar fazer filmes aos jovens. E castigar os cineastas que nos últimos onze anos estiveram a fazer coisas. São duas atitudes drásticas.

Tem acompanhado a produção cinematográfica dos cineastas mais jovens?

Sim, os que tenho podido ver na Cinemateca. Vi o Manuel Mozos, a Teresa Villaverde, o Pedro Costa, sei lá...

E a produção de curtas-metragens?

Não vi. Aqui em Trás-os-Montes também não é possível! Mas em relação ao documentário tenho uma experiência muito gira. Eu tinha um partis pris, e uma pessoa com partis pris é uma pessoa idiota; eu dizia que o documentário não é trabalhado, é inventado, porque a realidade não acontece como surge no documentário. Logo, o documentário será uma arte menor. Depois, vi em Ardèche um documentário sobre um nazi: eram dois filmes, um sobre um nazi e o outro o making of desse filme. Foi de noite e eu tive vómitos, tive uma reacção visceral e converti-me ao documentário. Era uma coisa pungente, chamava-se Unser Nazi, O Nosso Nazi. Foi feito por um cineasta que entrou como actor no Brandos Costumes, do Seixas Santos. Uns tipos deslocavam a câmara em círculos à volta do nazi. O nazi não era um actor era de facto um nazi, daquele que se tinha conseguido apanhar, um individuo de meia idade que acedeu a fazer a entrevista. Era tipo pergunta, resposta: "Fez isto e isto e isto?", "Fiz", "E o que é que sente?", "Nada, era o meu trabalho". A certa altura, começa-se a levantar dentro de nós um sentimento muito estranho, que é o de que estes também a torturar o nazi! Por quem me vou dividir? Isto só analisei muito tempo depois. O nazi repugnava-me, porque era um nazi verdadeiro e estava voluntariamente ali, não tinha nenhuma sensação do mal; ao mesmo tempo era idoso – e vem a ideia do pai –, os outros eram novos. Nós não sabíamos para que lado nos havíamos de virar; eu tive de vomitar, coisa rara em mim; não choro em filmes, quando muito posso-me rir. Aí disse: podem fazer-se coisas lindíssimas a partir seja do que for, é preciso é ter talento.

Alguma vez pensou esquecer completamente o facto de durante dez anos não obter apoio financeiro para o projecto e...

Era só a comparticipação portuguesa, a que eu tenho direito, porque eu pago impostos. Era só a contribuição portuguesa, porque o resto eu arranjava lá fora. As co-produções é assim que funcionam, dá-se aqui uma fatia do orçamento e depois os co-produtores avançam. Não posso é passar para o apoio externo sem a quotização portuguesa. E foi isso que me fizeram, sempre me impediram na primeira fase. Cheguei a ficar em segundo lugar, eles não me punham nunca no fim da lista, andaram a gozar comigo mesmo. É opinião minha e dos meus amigos.

Nunca pensou pôr uma pedra em cima de tudo isso, comprar uma câmara de vídeo e começar a fazer os seus filmes, já noutra perspectiva?

Não, não. Eu não tenho jeito para filmar, não sou boa técnica. Tenho ideias. Normalmente, o operador ajuda-me, eu digo: "Quero isto, ponha a técnica e faça-me isto desta maneira". Tenho ideias visuais muito nítidas. Por exemplo, em relação ao Pedro Páramo tenho as cenas todas na cabeça, podia fazer esquemas. Cheguei a ir duas vezes ao México, havia sítios que inclusive já tinha escolhido.

O filme passa-se no México, portanto.

Só os exteriores, que até nem são muitos, para ser mais baratos. Os interiores far-se-iam aqui para rentabilizar, estava tudo já esquematizado.

Acha que o facto de ser mulher pode ter tido alguma importância para não ter recebido a comparticipação?

Eu pensei nisso no princípio. Primeiro: "Não vou ser paranóica, não me dão agora dão-me depois!"; depois, pensei: "Será por ser mulher?". Mas não era! Porque a Maria de Medeiros fez, fez a Teresa Villaverde e fez a Margarida Gil. E eu concluí: "Não, não é por ser mulher, então porque será? Será porque eu pus o meu nome primeiro no Rosa de Areia e o do António a seguir?" Mas não. As pessoas que foram enterrar o António, os seus colegas do cinema, portaram-se muito mal. Pena não tinham nenhuma – eu não vi, mas pessoas minhas amigas viram. Também não era por eu estar a querer fazer cinema sem o António, portanto. Finalmente, gostava que me explicassem esse mistério, porque se repetiu, foi uma recusa tão nítida, que houve qualquer motivo que se prolongou nos vários júris. Saber qual é, não sei. Gostaria que me dissessem. Não é por eu ser mulher, não foi por não ter cumprido as exigências, apresentei os documentos na hora certa, etc. Faltou-me uma coisa: ter uma boa cunha, nas antecâmaras perversas das atribuições de subsídios para o cinema.

O cinema em Portugal faz-se através de cunhas?

É só cunhas, não tenho a mínima dúvida. E os cineastas portugueses, conheço bastantes, trabalham não pelo cinema, mas porque precisam de ganhar algum dinheirito, dado que eles não têm uma profissão regular fora do cinema. Os subsídios são-lhes dados pelo Estado, eles nem pagam impostos, coitados, têm uma sorte doida. São os mesmos de ano para ano, "tu ganhas este ano, daqui a três anos ganhas tu", e fazem estas estratégias. Esta é uma das partes do mistério. Agora, porque é que me seleccionaram sempre para fora, a mim, eu? Não sei. Eles pertencem a gangs pequenos, uns com os outros e eu não pertenço a nenhum gang.

O que é mais importante para si, na vida?

A amizade, a amizade.

Como é que vê a história do cinema português desde 1974, altura em que começou a participar?

Eu não sou idónea nisso. E se já não era antes, agora muito menos. Não vou falar sobre o cinema português, que aliás acho que não existe. Há películas filmadas, muitos metros, muitos quilómetros de película filmada, mas cinema? Diga-me algum, ou alguma obra menor que o cineasta a seguir tenha melhorado um pouco. Se me disser, eu respondo: "Ah! Pois, não tinha visto!" Mas a minha teoria é que não há cinema português. Há uma porção de pessoas que impressionam película, com tendências de teatro filmado, místicas num caso, thriller noutro e, ainda, episódios descarnados da guerra no ultramar, melodramas...

Em relação à forma como as pessoas fazem ou conseguem fazer cinema, acha possível que se venha a alterar?

Na questão chamada cinema, sou pessimista. Acho que as pessoas já deram provas de que não fazem nada e continuam a receber subsídios. E as pessoas novas, que poderiam ter pontos de vista diferentes – pelo menos havia a suspeita que poderiam fazer filmes bons – não têm oportunidade. Portanto, há muita gente que poderia fazer bons filmes certamente, se a política de subsídios fosse mais justamente distribuída; mas não era com júris destes, que são tão "isentos".

A sua experiência como psiquiatra influenciou o seu trabalho?

No cinema não. Tenho uma faculdade de visualizar cenas desde criança. Ponho facilmente uma ideia minha em cena, no cinema. Com facilidade sei qual é o melhor ponto de vista, como se resolve na cena seguinte. No Jaime, descobri que sei pôr imagens em movimento. E sons. Sei fazer isso.

Há quantos anos não apresenta o projecto?

Há dois anos.

Quais são actualmente os seus projectos?

Viver em paz. Fazer felizes as pessoas que se chegam a mim.

Dados auto-biográficos
Nasci em 05.07.1938
Em Mogadouro, distrito de Bragança.
Licenciada em Medicina pela Faculdade de Medicina do Porto.

Filmografia

1974
Assistente de realização, de som e montagem de Jaime
, de António Reis
35mm, 35´, cor-p/b.

1976
Trás-os-Montes
, (1976),16mm, 110´, cor
Realização, argumento, som e montagem em parceria com António Reis

1985
Ana
, 16mm, 115´, cor
Realização, argumento e montagem em parceria com António Reis

1989
Rosa de Areia
, 35mm, 105´, cor
Realização, argumento e montagem em parceria com António Reis


*

esta conversa foi gravada em casa de Margarida Cordeiro, Trás-os-Montes, na Primavera do ano 2000 e publicada em Dezembro do mesmo ano em "Cineastas Portuguesas 1874-1956", Câmara Municipal de Lisboa, 2000, (92-107).

(C) fotos de ilda teresa castro

quarta-feira, 19 de março de 2008

ars industrialis

http://www.arsindustrialis.org/

Ars Industrialis vous invite à assister à son séminaire :

DU PSYCHOPOUVOIR A LA NOOPOLITIQUE
Bernard Stiegler
Mercredi 19 mars Economiser signifie prendre soin, 26 mars et 4 mai, de 18h30 à 20h30
Collège international de philosophie - Amphi Stourdzé, 1 rue Descartes - Paris 5°
entrée libre

***
Pour consulter l'agenda : Agenda

Pour lire et/ou signer l'appel FAIRE ATTENTION, cliquez ici : FAIRE ATTENTION

Pour écouter les conférences en podcasting.

Pour trouver les pages personnelles d'un membre de l'association : recherche par nom (attention ne tapez que le nom de la personne, pas son prénom)

Pour vous abonner à notre lettre d'information :
http://lists.sopinspace.net/cgi-bin/mailman/listinfo/commai

Pour adhérer ou renouveler votre adhésion, nous vous invitons à consulter nos pages adhésion.

***

Présentation de l'association

Notre époque est menacée, dans le monde entier, par le fait que la vie de l'esprit a été intégralement soumise aux impératifs de l'économie de marché, c’est à dire à la loi de l’amortissement rapide, à travers la monopolisation des technologies de l’information et de la communication, dites aussi culturelles et cognitives, et qui forment le secteur de ce que nous appellerons ici des technologies de l’esprit.

Or, ces technologies peuvent et doivent devenir un nouvel âge de l’esprit, un renouveau de la « vie de l’esprit ». Tandis que le modèle classique de la société industrielle paraît caduc, cet objectif doit constituer le motif d’une économie politique et industrielle de l’esprit – qui doit aussi être une écologie industrielle de l’esprit.

Ces technologies visent aujourd’hui à contrôler et à façonner hégémoniquement les modes d’existence individuels et collectifs, et ce, à tous les âges de la vie. Or, ce contrôle des existences est un contrôle et une manipulation des désirs des individus et des groupes et conduit à détruire les possibilités mêmes, pour ces individus et pour ces groupes, d’exister et de désirer : la démotivation empoisonne le monde. Le capitalisme, au XXè siècle, en vue d’absorber les excédents de la production industrielle, a fait de la libido sa principale énergie en la canalisant sur les objets de la consommation. Or, aujourd’hui, cette captation de la libido a fini par la détruire. Ce fait majeur constitue une immense menace pour la civilisation industrielle.

Reste que les technologies d’information et de communication sont précisément les technologies spirituelles, et cela signifie tout aussi bien qu’elles relèvent de la question des techniques de la mémoire dont Michel Foucault analysa le sens comme techniques de « l’écriture de soi ». La relation des hommes à ces technologies ne peut en aucun cas continuer de se limiter aux usages prescrits par les modes d’emploi et les campagnes de marketing : ce sont, comme disait Foucault, des hypomnémata.

La question d’économie politique que pose l’avenir industriel est la relance du désir – et non simplement la relance de la consommation. Et dans la mesure où le désir est en son essence orienté vers la sublimation, une politique industrielle de l’esprit peut et doit devenir une politique industrielle de relance du désir – à l’heure des technologies de l’esprit. Nous sommes convaincus, en particulier, que là est l’avenir de l’Europe – et- au-delà, des démocraties industrielles.

ARS INDUSTRIALIS est située à Paris, en France, mais se définit avant tout comme européenne. Elle veillera dès ses premiers pas à trouver des interlocuteurs, des partenaires et des adhérents dans les pays d’Europe, et à organiser ses activités hors de France aussi souvent que ce sera possible. Pour autant, c’est une association internationale, et non seulement européenne, qui entend développer des échanges internationaux bien au-delà du continent européen.

Elle entend porter sa réflexion au niveau mondial, pour ce qui concerne tous les points évoqués précédemment, et, par voie de conséquence, dans les domaines de l'enseignement, de la recherche, de la science, de l'art, des médias, de l'organisation des services publics de l'audiovisuel, des industries culturelles et des industries de programmes privées, et des politiques d’aménagement du territoire.

Outre ses partenaires et adhérents d’Europe et des autres continents, ARS INDUSTRIALIS visera à développer dans les villes de France un réseau de lieux d’activités, d’adhérents et de correspondants. ARS INDUSTRIALIS animera ces différents réseaux en utilisant tous les moyens contemporains de communication disponibles, et recherchera pour cela le soutien d’organismes et de collectivités publics et privés.


Le site de l'association ARS INDUSTRIALIS est actuellement en cours de construction, si vous souhaitez être informé des activités de l'association, ou en devenir membre, merci d'envoyer un message en cliquant ici.

Pour lire le manifeste, allez ici.


quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

alexander sokurov – art, life and perception

excerpts

“Every artistic work lives its life and, in an absolute sense, doesn’t even need a spectator. It’s already been made, it already exists. A member of the audience at The Russian Ark has to do a lot of work to understand it. On the other hand, someone going to the film without any preconceptions, with an open heart, gets everything.”

Alexander Sokurov’s interview to Edward Guthman for the San Francisco Chronicle 02.02. 2003
http://www.russianark.spb.ru/eng/interview_full.php?int_id=13
(última consulta em 2008-01-08)


“I’d like human society to preserve simple concepts of what is of genuine value and what isn’t of value. I’d like people to stop reassessing what they regard as being valuable, and I’d like human society to adopt as being axiomatic the idea that art is the greatest thing that man has managed to create and that the aim of any state should be the preservation and development of art. Politics and economics change, they’re volatile, but the only thing that unites us is art. It’s the only public space where we remain people. Everything else divides us – politics, territory, gravity.
Only fundamental art, which has undergone the test of time - popular forms of art - create what is shared by humanity. You can’t reevaluate these categories, because that’s misguided. It’s the only anchor, the only support for the lives of people on this planet.”

Alexander Sokurov’s interview by John Hartl, chief film Writer for the Seattle Post Intelligencer 02.02. 2003
http://www.russianark.spb.ru/eng/interview_full.php?int_id=14
(última consulta 2008-01-08)


“I see Time in its entirety - the present continuous tense. I have to be inside it, I have to be as integral as this artistic space, as this multiplex yet indivisible architectural ensemble. No close–ups - just one single panorama.”

Interview by Alexandra Tuchinskaya. English translation by Anna Shoulgat, © 2002.
http://sokurov.spb.ru/isle_en/isle_ftr.html
(última consulta 2008-01-08)


“I am not able to make revolutions (the more so, as this is not in my nature). I definitely prefer evolution. Besides, how can we talk about innovations in the context of art? What is new, for instance, in the paintings of Kandinsky or Malevich in comparison to the art of Ancient Egypt, or in the works of impressionists, Cezanne compared to Rembrandt? (…)
To my mind, all the definitions of an innovation are nothing but corporate conventionality of art critics. Art is created - actually it was created long ago.”

Interview by Alexandra Tuchinskaya. English translation by Anna Shoulgat, © 2002
http://sokurov.spb.ru/isle_en/isle_ftr.html
(última consulta 2008-01-08)


cinema, editing and consciousness

“As I said, there have been films with very long takes. Tarkovsky, in his lectures, gave the example of several hour-long shot of a sleeping man, and we learn that when the man eventually wakes up everybody feels relieved. That was just a film-makers joke. But we are talking now about a serious artistic work and one of great importance.”

“It turned out that the spectator simply, organically and calmly perceives our picture, which is shot in one take. The main thing for me, in fact, was to ensure that this technological aspect – making the film in one shot – didn’t become the main thing in the film. The most important thing was for the viewers to naturally, as in the process of breathing, immerse themselves in the artistic qualities of the film, the artistic and dramatic issues and the beauty that they see before them. And when that happens, the viewer simply doesn’t pay attention to the technical side of the film. They’re simply interested in it.”

“We live in a world, and are surrounded by perceptions of it, that is shot in one take. (…) And that’s very organic for human perception.
And if it turns out that the artistic goal is more important than the technology, if the instrument for achieving the concept isn’t visible, then it works. […] So there’s nothing strange about it. All preceding intellectual practice (particularly in literature) leads up to it.”

Alexander Sokurov’s interview to Edward Guthman for the San Francisco Chronicle 02.02. 2003
http://www.russianark.spb.ru/eng/interview_full.php?int_id=13
(última consulta 2008-01-08)


“Editing, in that sense, preserves more of the rudiments of literature and other art forms.”

“For the first time, we organically and in real time created a film work without any form of internal violence. The main instrument of violence in film, until the appearance of The Russian Ark, was editing. Editing is the main sign of the existence of film, it’s the biggest letter or word in the cinematic dictionary, and without that component, cinematography is unthinkable, although many have dreamt of achieving it before us.”

“We’re now shooting another film. It employs editing and I’m not saying that I’m rejecting traditional film tools. Nevertheless, I’m still tired of editing. I want to deprive cinematography of that instrument which allows for the creation of aggressive and destructive works. Today, with the aid of editing, the whole world is engaged in destructive work on the human consciousness. That’s my belief.”

Alexander Sokurov’s interview by John Hartl, chief film Writer for the Seattle Post Intelligencer 02.02. 2003
http://www.russianark.spb.ru/eng/interview_full.php?int_id=14
(última consulta 2008-01-08)


“We shouldn’t be afraid of difficult films, we shouldn’t be afraid not to be entertained. The viewer pays a high price for a film. And not in money. Viewers spend their time, a piece of their lives – an hour and a half to two hours. A bad film, an aggressive film, takes several centuries of life from humanity… You have to go joyfully to a meeting with these difficult films. These films respect viewers and don’t demean them, these films love free, strong people with a developed sense of their own internal democracy. These films love people who love art and are prepared to listen to other people. At the end of the day, you don’t have to have a literal, conceptual understanding of films such as these. So-called auteur films are an encyclopedia of candidness and an encyclopedia of open hearts. So you have to see these films.”

“Only filmmakers give us the opportunity to study the atmosphere of the event. That’s the crucial thing that we love and value in cinema. To show our contemporaries the atmosphere of a time long since passed – that’s one of our aims. You can go back to that time that has long since passed in an almost documentary manner. And, believe me, there are a lot of astonishing sensations, astonishing discoveries and moods. I would include the scene of the ball in 1913 in that category. It would be hard to imagine another such open window across time. We shouldn’t be afraid of the flow of time.”

Alexander Sokurov’s interview to Edward Guthman for the San Francisco Chronicle 02.02. 2003
http://www.russianark.spb.ru/eng/interview_full.php?int_id=13
(última consulta em 2008-01-08)


“It was very important to us that we ourselves got involved in the flow of time and that that flow be preserved and itself become reality. This wasn’t an experiment, this was the accomplishment of a serious professional task, accompanied by the routine of film work.”

“Working harmoniously with time and not overriding time in the shot, we, perhaps, are pointing out another, special way forward to young filmmakers.”

Alexander Sokurov’s interview by John Hartl, chief film Writer for the Seattle Post Intelligencer 02.02. 2003
http://www.russianark.spb.ru/eng/interview_full.php?int_id=14
(última consulta 2008-01-08)


“I’ve got a personal principle which maintains that a film is a living organism and, while we’re working on the film, there should be opportunities for certain alterations to be made. “

“From the point of view of the dramaturgy, the film’s construction is quite unusual, with the main visual event coming at the end. But the one-shot filming allows the dramatic center of the film to be moved closer to the end. It’s a refinement, a concrete idea, that could only be accomplished by virtue of the fact that all the components of the ball were prepared and planned long in advance.”

the State Hermitage

“He accepted my idea knowing that nobody had ever attempted anything like this before, but the Hermitage needs some sort of visual exposure. It also needs new and more modern forms of expression, the re-animation of its ancient myths and legends, and the creation of new ones.”

“It’s almost a personal story, because the main artistic impressions of my life are linked to the Hermitage. You could say that my artistic maturing is linked to the Hermitage. In my personal view, there is nothing higher than painting, or higher than literature. At the Hermitage, there’s an astonishing opportunity to be one on one with original paintings, a vast scale of variety and a colossal historical retrospective of artistic works, all of them located in one place in several historic halls which simply awe you. They’ve worked out, for example, that if you spend a minute in front of each painting and sculpture, then, in order to see the entire Hermitage collection, you’d have to be there for three years. It’s an enormous school. And if a person thinks seriously about their profession, then they can’t get by without world culture. Everyone loves to study, and that’s particularly true of us, filmmakers. The center of the city and the center of Russia is the Hermitage. It’s the young heart of Russia.”

Alexander Sokurov’s interview to Edward Guthman for the San Francisco Chronicle 02.02. 2003
http://www.russianark.spb.ru/eng/interview_full.php?int_id=13
(última consulta em 2008-01-08)


“I was curious to know how it was to live inside a work of art - in the Hermitage–museum, an architectural monument, as well as in the Hermitage–the historical residency of the Russian State. Have a try to live inside a piece of jewellery - in a Faberge Easter egg!”

Interview by Alexandra Tuchinskaya. English translation by Anna Shoulgat, © 2002.
http://sokurov.spb.ru/isle_en/isle_ftr.html
(última consulta 2008-01-08)


Russia and Russian Ark

“There’s no doubt that several periods of time are existing in parallel in the life of Russia today. Elements of feudalism and elements of early Russian capitalism and continuing socialist habits. This is true of the people and the authorities, and so on. Yes, Russia is distinguished by the fact that in one temporal plane, a multitude of historical epochs are in existence. And, despite the fact that we live in the 21st Century, we are also living in the 18th, 19th and 20th centuries.”

Alexander Sokurov’s interview by John Hartl, chief film Writer for the Seattle Post Intelligencer 02.02. 2003
http://www.russianark.spb.ru/eng/interview_full.php?int_id=14
(última consulta 2008-01-08)


“(…) despite all the enormous technical complexities of the project, all of us – the director, the producer and the technical specialists – were united in making a film in one breathe, in making a single, uninterrupted shot. In essence, that task created a unique and astonishing mood and existence for everyone that took part in the creation of the film. The emotion and organic nature of the behavior of the actors in that shot was created by the very fact that they were participating in the creation of this specific artistic work and in this experience. Our actors were proud of the fact that they were taking part in this artistic enterprise and, of course, no stops or incisions into the body of the picture could be allowed on moral grounds.“

“However, every artist chooses his own way to his own target. I personally do not have a right for pure experiment: I am not a millionaire. I make my films with the money either of the state or those people, who trust me. Russian Ark is an absolutely academic work of art. It was well-thought–out and planned a long time ago, but has been brought to life in extremely hard conditions. Therefore we are far from having accomplished everything that was planned.”

“Those are just emotional impressions of my own: reflections of a man, brought up on certain cultural traditions, - reflections on Time, on historical characters. And this is undoubtedly the system of feelings and ideas of a contemporary citizen of my Native Land.”

spiritual sight - a sight of the soul

“In our film, there’s one almost documentary scene. It’s led by Tamara, a woman who’s in fact blind. But in her real, day-to-day life, she sees with a special, spiritual sight. It’s a seeing soul that people without sight have. They have a sight of the soul and it’s much more refined than ours. Not everyone can understand how much people with spiritual sight have helped everyone one of us in our personal lives. In fact, it’s an enormous mystery – how does a person without a detailed, object-based perception of the world, manage to perceive that beauty. I’m not really able to discuss this subject…All our rehearsals with Tamara, the shooting, the dubbing – all those meetings caused anxiety for me and, for some reason, I had a sense of guilt. I was too embarrassed to ask her questions and I was afraid of making a careless comment.

She’s a very good, quiet woman. It seems that this sight of the soul is much more sensitive than our visual sight.

It’s a very dramatic subject and it’s evidence of the fact that there are at least two worlds in existence between people. And there’s an enormous dramatic pause between us. It’s very important to stop at the right moment, and not to speak too much about this subject. You have to stop because the truth isn’t in words, of course.”

Alexander Sokurov’s interview to Edward Guthman for the San Francisco Chronicle 02.02. 2003
http://www.russianark.spb.ru/eng/interview_full.php?int_id=13
(última consulta em 2008-01-08)


high art is live energy

“My conviction that there is no such thing as dead art comes from my profound belief – not an abstract belief, but, at the same time not entirely concrete, rather an almost physiological belief – that everything that is original and that is really “from the author” within the walls of a museum, and in this case within the walls of the Hermitage, is alive. A canvas that Rembrandt has touched, or El Greco, or Van Eycke, carries the paint that these great people have put on in layers and they all preserve the energy of the author and everything that is extraordinary about the essence of these people. If you are a sensitive person going to see an original painting by a great painter, you get a very definite sense that it’s a living thing, because that energy is preserved eternally, or as long as that canvas materially exists. Without a doubt, our relations to painting and to original sculptures are the same as our relations to living beings. That doesn’t derive from any pagan or primitive beginnings and there’s no pagan element to it. It’s simply an organic belief in the fact that fundamental high art is live energy that has been preserved down to our days.”

Alexander Sokurov’s interview by John Hartl, chief film Writer for the Seattle Post Intelligencer 02.02. 2003
http://www.russianark.spb.ru/eng/interview_full.php?int_id=14
(última consulta 2008-01-08)


all times exist in parallel

“I hope that the audiences that see the film in the warm and friendly city that is San Francisco understand that all times exist in parallel with each other. Nothing has passed and nothing has disappeared into a black hole and everything can be understood. Everything will change, if we make the effort to understand.”

“We’ve just heard on the radio of the catastrophe that has happened on the American space shuttle. Let all of us light candles in their memory. Words are powerless…”

Alexander Sokurov’s interview to Edward Guthman for the San Francisco Chronicle 02.02. 2003
http://www.russianark.spb.ru/eng/interview_full.php?int_id=13
(última consulta em 2008-01-08)



foto de Alexander Belenkiy

http://www.russianark.spb.ru/
(última consulta em 2008-01-08)

http://sokurov.spb.ru/
(última consulta em 2008-01-08)